quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pausa

E, aproveitando o Outono, este Blogue vai iniciar uma pausa. Voltará com o Inverno? Ou com a Primavera? Talvez lá para o Natal. Algumas dos temas mais conotados com este Blogue serão publicados no "Espaço Azul". O regresso ao trabalho mais intenso do Outono e a gestão de outros blogues - da Escola EB1 São João de Deus e do ESCA - obrigam-me a fazer opções, porque o tempo não chega para tudo. Encontramo-nos, se quiserem e enquanto quiserem, onde sabem que me encontro.
E obrigado pelas visitas e comentários. Até breve!

Poema de Outono

Pintura: Autumn Light - Jorge Silva

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da Primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Aleluia!


Hoje faz anos o Messias, o de Handel, terminado em 1748. Fica dele esta magnífica peça, o Aleluia. Emocionante, arrebatador, convida a cantar - pois façam o favor!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

la fin de l´été - mais

Também a cantar o fim do Verão, a incontornável BB, quando ainda não andava na defesa das focas-bebés (e ainda não se encharcava de álcool, "alegadamente").


terça-feira, 7 de setembro de 2010

la fin de l´été


Talvez os de mais de 50 anos se lembrem: os Chats Sauvages a cantar "Quand vient la fin de l´été - derniers baisers", numa gravação de 1962. Romântico a roçar o piroso, mas cheio de simbolismo. O fim do Verão e dos amores de Verão. Pirosos ou não, românticos ou não, acontecem, vivem-se, ensinam, deixam nostalgia... e às vezes até continuam hors saison...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tardes de Verão - 4


Jan Blencowe - Summer Landscape

Tarde de Verão - MC

 
O sol aquece a terra
A leve brisa morna
Afaga a seara
E os insectos
Esvoaçam
E zumbem
À volta dos frutos

Tarde de Verão

Qualquer som
Distante
Nos embala.
Uma criança que ri
Um cão que ladra
Um ribeiro que corre.
E a aragem
Terna e doce
Teima
Em beijar-nos
Ao de leve

Tarde de Verão

O corpo espreguiça-se
E repousa.
Os sentidos descansam
Na paisagem.
O Bem e o Mal
Fizeram tréguas

A vida corre lenta
Leve e longa.
Mais lenta do que os anos
Que passam
Sem se verem.
Mais leve do que o peso
Do desígnio
Que nos esgota.
Mais longa afinal
Do que a duração
De uma simples
terna e calma
Tarde de Verão.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Tardes de Verão - 3


Summer - Natascha Westcoat

Tarde de Verão
Renato Baptista

E eu, nessa tarde fria de verão
Sentindo o calor da saudade
Imaginando o teu céu, meu véu
Teu amor que me escapa e vai
Com o vento que te leva
Pelos caminhos da vida
Mas o destino é um só
Ao meu lado por segundos
Como o beija-flor que bica
Alimenta-se e vive
E voa e se distancia
Fico com o sabor
Da sua boca que é linda
Com teu hálito macio
Com o carinho do teu abraço
Com a sensação da tua pele
Doce e querida
E tudo como se eu te tivesse
Aqui, agora
Acariciando o meu desejo
Minha fome de te amar

E eu, aqui vendo a noite chegar
Estrelas que se anunciam
Tempestade de amor
Que se pronuncia
Na imagem do teu cheiro
Do teu gosto que me tem
Como uma simples e comportada
Paixão...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 4

Mais um poema sobre o tema. Imortalizado por Elis Regina, com a melodia de Baden Powell (ver clip abaixo)

Quando eu morrer - Paulo César Pinheiro

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Vai meu lamento vai contar
Toda tristeza de viver
Ai a verdade sempre trai
E às vezes traz um mal a mais
Ai só me fez dilacerar
Ver tanta gente se entregar
Mas não me conformei
Indo contra lei
Sei que não me arrependi
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha

Sai minha mágoa
Sai de mim
Há tanto coração ruim
Ai é tão desesperador
O amor perder do desamor
Ah tanto erro eu vi, lutei
E como perdedor gritei
Que eu sou um homem só
Sem saber mudar
Nunca mais vou lastimar
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Cordão de ouro
Eu vou partir porque mataram meu besouro.


sábado, 28 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 3


Quando eu morrer, com minha guitarra enterrai-me, sob a areia
Quando eu morrer, enterrai-me num cata-vento.
Quando eu morrer!

Frederico Garcia Lorca - Lamentação da Morte, 1921

Fuzilado pelas tropas franquistas em 1936, numa série de acções denominadas "¡Muera la inteligencia! ¡Viva la muerte!", de que foi também vítima Miguel de Unamuno, Garcia-Llorca foi enterrado pelos assassinos algures, ao pé de Granada, desconhecendo-se o local exacto.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 2


Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado a andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá-Carneiro

Fotografia de José Maria Formosinho Sanches

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 1

Ao visitar o Oceanário, deparei-me, à entrada, com este belíssimo verso de Sophia. Não resisto a (re)pô-lo aqui, e a dar início a uma sequência de poemas subordinados ao tema: "Quando eu morrer". A morte é um dos lugares encantados dos poetas, glosado com frequência. Mais do que o nascimento, diga-se (quando elaborei a Antologia "A Poesia do Nascimento" tive sérias dificuldades em encontrar material, tal a paucidade de poemas sobre o assunto. Seguir-se-á uma recolha sobre o Mar.

Se tiverem alguns poemas, enviem.


Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar

Sophia de Mello Breyner Andersen

 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

morreu George David Weiss

Morreu o autor de algumas das canções mais emblemáticas do século XX, designadamente a inesquecível "What a wonderful world", de que deixo o clip abaixo, imortalizada por Louis Armstrong (tentem concentrar-se na melodia e na orquestração). O compositor também escreveu muitas músicas para Elvis Presley e Frank Sinatra.


O Olho de Londres, ("Merlin Entertainments London Eye", de seu verdadeiro nome, ou "Millenium Wheel") deixa-me alguma ambivalência. Gosto do design, embora pareça uma roda gigante gigantesca, passe o pleonasmo, mas é mais do que isso, e uma ousada obra de arquitectura. No local onde está não incomoda nenhum edifício em particular e, dizem, a vista lá de cima é soberba.

O Olho mede 135 metros e é uma das rodas mais altas do Mundo, sendo actualmente a atracção turística mais rentável do Reino Unido, com cerca de 3,5 milhões de visitantes anuais. Fica na margem sul do Tamisa, perto da Westminster Bridge, nos Jubilee Gardens.

Inaugurado no último dia de 1999, veio para ficar, mesmo que não tenha sido inicialmente essa a ideia, e apesar de alguns problemas financeiros há cerca de 5 anos.

Tal como deve ter acontecido à Torre Eifel há cem anos, as pessoas vão-se habituando à presença da ilustre Roda, e já sabem que "The Big Eye of London is watching you". 

Depois de escrever este texto, rever as fotografias que tirei e reflectir, a minha ambivalência acabou...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

tardes de Verão - 2

Manet - Dejeuner sur l´herbe


Cesário Verde

Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Les Misérables


De volta. E com uma música (e um musical) que fazem as minhas delícias, tal como o romance de Victor Hugo que lhes deu origem: Les Misérables.

O musical está em cena em diversos países (há 25 anos em Londres), e nunca me esquecerei de como este romance me marcou - foi essencial para o meu "puzzle" de formação da "consciência social" e determinante na decisão de tentar, toda a minha vida, lutar contra as injustiças, mesmo aquelas legalizadas pela pena cínica e amoral de juristas, advogados e juízes, ou pelos poderes corporativos de médicos, professores ou outros profissionais. Ou simplesmente negar o direito de alguém fazer sofrer outrém, por mero prazer, negligência ou ignorância.

Li (e reli) o romance com cerca de 15 anos. Já vi o filme, realizado em 1998, com excelentes interpretações de Liam Neeson e Uma Thurman, e por duas vezes o musical. E, tendo dado agora pela lacuna nas minhas prateleiras, encomendei o livro para reler.

Há "miseráveis" em todo o lado - convém estar atento, além do mais...

sábado, 7 de agosto de 2010

tardes de Verão - 1

Alberto Caeiro - No Entardecer dos Dias de Verão
in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...





sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ciclos

Quem passa poderá nem notar, já que tem a cabeça ocupada com o trabalho, férias ou com os problemas do dia-a-dia.

Mas a terra nunca pára, mesmo quando parece estar em pousio. Semear para crescer, crescer para colher, colher para armazenar, armazenar para ter... até poder semear de novo. São ciclos que se repetem desde o neolítico. Com a calma da Mãe-Natureza.

E com tudo isto ficamos um ano mais velhos... inexoravelmente mais velhos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

as amoras de Verão


Nada como andar pelas veredas e colher amoras, algumas ainda ácidas, outras a desfazerem-se, escuras e gostosas, misturando o sabor agridoce do fruto com o timbre do pó, enquanto os insectos zumbem e as silvas picam em cada amora que se colhe.

Ficam agarradas aos dentes? Talvez. Tingem a roupa? Claro que sim. Mas deixam a boca de quem as come sensual e apetecível... como as amoras de Verão.

Fica um poema de Sophia sobre este fruto estival.

As amoras - Eugénio de Andrade


O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

um soneto de Verão

de William Shakespeare

Se te comparo a um dia de Verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do Verão é bem pequeno.


Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.


Mas em ti o Verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

amores de Verão, em tom francês (e algo lamechas)


E, para os mais nostálgicos, aqui fica o Johnnie Halliday, cantando os amores de Verão.