segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sinal fechado


Ainda de Chico Buarque, contracenando com Maria Bethânia, "Sinal Fechado", talvez a peça de teatro mais pequena alguma vez escrita. Pequena, simbólica, nostálgica. Triste.

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!





Bem querer


Depois da farsa do encontro entre Sócrates e Chico Buarque (a pedido do primeiro mas correndo a versão oficial que era o cantor a querer a reunião...), fica esta fantástica obra de arte: "Bem-querer", em dueto com Maria Bethânia. Esta música deu origem a uma peça musical com o mesmo nome, ácida, dura, desesperada, mas com a garra de Chico, para mim talvez o maior cantor/autor brasileiro. Tive a sorte de a ver, em Lisboa, no ano passado.

Fica aqui o poema, mas têm de se ouvir as vozes amargas e tristes de Chico e de Bethânia, para se sentir o calafrio.

Quando o meu bem querer me ver
Estou certa que há-de vir atrás
Há-de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais


E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há-de responder com juras
Juras, juras, juras imorais


E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há-de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais


E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais


E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há-de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais


E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás.

sábado, 29 de maio de 2010

um banho de lua...

crédito imagem: 1.bp.blogspot.com
Que fazer
com a réstia de luar
que se acolhe no mar
no regaço da noite?

Transportá-la
nas mãos em concha?
Conservá-la
numa redoma?

Ou deixá-la
simplesmente
a cintilar
com o desejo ardente
de ser eu
o mar?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

outra vez a Katie


Katie Melua acaba de lançar um novo disco. Muito bom, com sonoridades novas. Gosto especialmente do "A moment of madness", que consta deste clip. Às vezes apetecia, "um momento de loucura", em que levássemos a ousadia ao extremo... ou em que fossemos inimputáveis quando déssemos a sova devida a quem a merecia...

terça-feira, 25 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cores de Maio - 1

Miguel Esteves Cardoso, de quem leio assiduamente as crónicas no Público, até porque gosto muito da sua maneira de escrever e da atenção aos pormenores da vida, afirmava na sexta-feira algo como isto: "A Primavera estiola, as cores habituais desapareceram, os campos estão cinzentos e mortos".

Discordo. Totalmente. Ainda este fim-de-semana passiei pelos campos e raramente os tenho visto tão coloridos, das árvores às plantas mais rasteiras, das rosas aos cardos. E aqui ficam algumas fotografias das flores que irromperam no nosso jardim. São as cores de Maio, na sua força, recompensado-nos do esforço (agradável e saudável) para acarinhar o seu crescimento.


sábado, 22 de maio de 2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"levanta uma pedra e encontrar-me-ás"...

Granada. Espanha. Numa rua turística.

E se este homem fosse mesmo Cristo?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

La Barbe-à-Papa


Na sexta-feira, na Feira do Livro, os meus filhos resolveram experimentar uma coisa que nunca tinham comido - e eu autorizei: algodão-doce.

Não podem imaginar como ficaram, de roupas a cabelo, tudo envolto numa "nuvem" cor-de-rosa quase como a fuligem do vulcão. Os lavabos da Feira estavam disponíveis, felizmente, mas o gozo foi enorme e creio, também que lhes serviu de emenda.

Aproveitámos para conversar sobre o algodão-doce, perguntaram como se faz e aproveitei para lhes tocar a música de Stephan Reggiani, cantada pelo pai: La Barbe-à-Papa, que é como quem diz: o algodão-doce da nossa infância. Eles, aliás, já eram fãs do Barbapapa, um excelente boneco de origem francesa de uma história em que é vincado o direito à diferença.

O que não lhes contei foi o drama de Stephan, que em 1980 se suicidou, aos 33 anos (a idade dos génios)depois de um percurso de vida complicado e de um concerto em Paris que correu mal. A morte do filho marcou Reggiani-pai de uma forma incontornável, agravando o alcoolismo. Um ano depois, fazer um disco em homenagem ao filho ("L´armée du brouillard") serviu para o cantor começar a sair da depressão.

Fica aqui a referência, e só agora reparo que comecei uma Entrada em tom feliz e a acabei de um modo tão sombrio... então, recuperamos o tom alegre do ínício:


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cesária: saúde!


Cesária Évora, segundo as notícias, está doente e teve de ser operada ao coração, depois de se sentir mal após o concerto no Coliseu. Esperemos que melhore e volte aos palcos rapidamente.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

pensamento quiçá ingénuo

E se o Mundo fosse predominantemente suave, acolhedor, terno, bucólico, rico, fértil, harmónico, sedutor, contrastado, ousado, rico, risonho... bom?

Como este campo primaveril, algures na Extremadura de nuestros Hermanos...

sábado, 15 de maio de 2010

Un di felice...


A segunda das minhas árias preferidas da Traviata (Verdi) - Un di, felice, eterea.

Com a Flauta Mágica, de Mozart, está no top das minhas óperas preferidas.

E como rebuçado aqui fica a número um. numa notável interpretação da Diva das divas, a enorme Callas, na ária Ah, Forse E' Lui... Follie!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Bom fim-de-semana

Bom fim-de-semana, sonhando com um Mundo cor-de-rosa, mas vivo e não demasiado idílico. Bom fim-de-semana, num total carpe diem.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A vida e os bois...

O meu querido filho Eduardo disse um dia, na fase talvez mais complicada da sua existência, que "a Vida é mais difícil do que dar banho a um boi".

Passei a olhar os bois com outro respeito. Em que pensará este boi, fixado pela minha objectiva algures, entre Cáceres e Sevilha? Pensativo, resguardado pela sombra acolhedora de um anódino chaparro. Será que reflecte nas palavras do Eduardo? Será a sua vida mais difícil do que as suas próprias abluções?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

God bless you, little stork!

Um avião fugindo das cinzas de um qualquer vulcão? O Super-Homem? A benção papal?

Não. Apenas uma cegonha, que pude fotografar no Santuário das Cegonhas de Cáceres, na vizinha Espanha. Olhamos para elas e perguntamos a nós próprios onde guardam elas os bebés. E se estão a chegar de Paris.

Pudera: desde os 18 meses de idade que andamos a fantasiar isto...

sábado, 8 de maio de 2010

nostálgico e sensível como o Mar Egeu

Ainda a propósito da Grécia, um autor pouco divulgado em Portugal é Manos Hatzidakis. Há muitos anos (em meados dos anos 80), era eu vizinho de Bernardo Brito e Cunha, o crítico musical e co-autor do "Pão com Manteiga" (lembram-se?), ouvia aos sábados um disco de música grega que achava maravilhoso.

Um dia perguntei-lhe de quem era aquela música e ele disse-me. Daí a um par de horas trazia-me o disco (ainda de vinil, um duplo album), que tinha ido buscar à Valentim de Carvalho. Nunca esquecerei, nem o epísódio de boa vizinhança, nem o gesto do Bernardo (que não vejo há mais de 20 anos), nem a música de Hatzidakis.

Aqui fica um dos seus temas mais conhecidos: Kemal.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

solidariedade com a Grécia


De "Zorba, o Grego". Música de Mikis Theodorakis.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

o expoente da alegria e da felicidade

Há dias entretive-me a observar uns melros que resolveram vir para o pé de mim, aproveitando o facto de a relva estar molhada (e as lagartas andarem mais acessíveis).

Deixaram-se fotografar, passearam-se, exibiam a sua tranquilidade e o orgulho de serem melros.

Felizes, afinal (até porque não havia nenhum gato por perto).