terça-feira, 6 de julho de 2010

Poema de Julho - Jaime Rocha

Crédito imagem: fr.academic.ru/pictures


Poema de Julho na Morte de Sophia


A sua voz irrompe das palavras
como uma cortina branca.


Uma voz que se prolonga nos riscos da areia
e mostra a boca oculta da água,
a mesma água que corre sobre as mãos
contra o rochedo da morte.
O sol de Julho bate na superfície do mar
como uma dança. Uma estátua renasce
num jardim de relva ao cimo dos ciprestes.


Como se estivesse num altar, na Castália,
nas montanhas douradas onde os poetas
param para beber nos pequenos sulcos.
A poesia espalha-se pelos cantos do deserto
como um pássaro de fogo fugindo das cidades.
A sua voz solta-se dos degraus como num teatro
construído para um deus.
Tapada pelas ervas, na sombra das árvores
queimadas, sob o templo de Delfos, as palavras
cobrem o brilho da luz, vestem a paisagem
com os lábios, choram, caminham para o mar.
Ítaca, o instante de um barco, o silêncio
e a cor do vinho.


Tudo se passa no olhar incendiado
da Grécia. A morte do seu corpo,
a claridade.

1 comentário:

Virginia disse...

E eu que moro aqui tão perto dos sítios que ela tanto amou....gostei do classicismo do poema, lembrou-me as aulas de literatura - tantas - em que se falava de Deuses!