sábado, 7 de agosto de 2010

tardes de Verão - 1

Alberto Caeiro - No Entardecer dos Dias de Verão
in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...





2 comentários:

Dulce AC disse...

(...)
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
(...)

"A arte da imperfeição"

Escreve a autora deste livro que:

" O melhor produto de beleza é ter vida própria. Uma vida a sério, com desafios, desilusões, pressões e felicidade. A tão elogiada beleza interior é uma luminosidade natural que surge em resultado de um envolvimento mental e emocional...."
e continua numa série de considerandos sobre precisamente a arte de sermos imperfeitos...

"Passe ao lado do que é importante: em vez de visitar Paris em três dias, veja apenas um museu, e passe o resto do tempo sentado nos cafés e nos jardins, a sonhar, a ler e a observar as pessoas"

Não deixa de ser interessante a perspectiva de vida aqui encontrada...

Um Olá num abraço amigo.
dulce ac

Virginia disse...

Ainda bem que há a imperfeição de tardes de verão sem verão....como as que acabei de viver em Leeds. temperaturas a riondar os 15-18º, fresquinho à noite, chuvinha miudinha, um regalo. Cheguei agora e senti um abafão...calor a sério , mesmo aqui no porto.
Mas é bom sentir o verão.