Lavar a loiça pode ser considerado "chato" por muita gente. Mas quando fica tudo em ordem, vale a pena contemplar e registar. Sem qualquer manipulação - o bonito pode estar em qualquer lado.
Os Mecano foram uma das bandas espanholas mais relevantes dos anos 80 e 90. Constituídos pelos irmãos Ignacio Cano e José María Cano, com a voz de Ana Torroja.
Numa Madrid que começava a ver o fim da La Movida, os Mecano entram em cena com o lançamento do single "Hoy no me puedo levantar", em 1981. Para além do sucesso que obtiveram em Espanha, e nos países de língua espanhola, os Mecano tiveram também um público português, com canções como "Hijo De La Luna".
A ária Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen, cantada pela personagem Rainha da Noite, da Flauta Mágica, de Mozart, é uma das que exige mais de uma soprano, tendo notas e trilos que só estão ao alcance de algumas eleitas - entre elas, Diana Damrau, aqui destilando o "seu" ódio em relação ao sacerdote Sarastro e ao amor, e aos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade.
Maria Callas, em La mamma é morta, da ópera André Chénier, de Umberto Giordano, sobre a vida do poeta romântico, guilhotinado durante a Revolução Francesa, em 1974, aos 31 anos, ironicamente três dias antes da morte de Robespierre e do fim do Terror.
Para mim, é talvez uma das árias mais arrepiantes que já ouvi. Ainda mais por esta Diva, de seu nome Cecilia Sofia Anna Maria Kalogeropoulou, inexcedível na sua expressão dramática e lírica.
Vale a pena recordar uma excelente exposição que teve lugar, no ano passado, no Museu da electricidade, em Lisboa, sobre a vida de Maria Callas, uma vida também ela dramática e lírica. O fim da sua relação com Onassis foi, porventura, o gatilho que provocou o abandono que conduziuà sua morte, em 1977, aos 53 anos de idade.
Mais uma fotografia que não foi sujeita a qualquer tratamento. Foi assim que o vi, ao céu, há cerca de uma semana, talvez fascinado pelos "espaços azuis entre as nuvens", neste Inverno chuvoso, a um tempo melancólico e trágico.
Para quê "inventar" e andar num frenesim à procura do impossível, se temos tudo ao pé de nós para sermos felizes?
De Alexandre O´Neill, cantado por Amália, com música de Alain Oulman, um fado de amor, pungente.
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar.
(refrão)
Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse.
(refrão)
Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro.
As pontes têm sempre algo de misterioso, como a nossa consagrada Ponte 25 de Abril.
Uma ponte vai para onde a nossa fantasia desejar e, rodeada de nevoeiro, tão típico do Tejo, parece não ter fim.
"A ponte é uma passagem" - rezava a canção. É uma transição, uma mudança. Sempre algo que nos faz mudar de um local para o outro, de um karma para o outro, por sobre um espaço por onde não poderíamos nunca passar sozinhos.
A Chegada da Rainha de Sheeba, da Oratória Solomon, de George Frideric Handel, é uma peça de que gosto muito. Encontrei uma versão apenas para instrumentos de sopro, interpretada pelo Amethyst Quartet.
Dispõe bem, e imagina-se a Raínha a entrar, com sumptuosidade e elegância. É bom para resumir um dia alegre e feliz, que espero seja o de hoje, para todos vós...
Muito bom. Um excelente musical, em que Daniel Day-Lewis faz um percurso de toda uma vida e da relação com as mulheres. Um realizador sem ideias que realiza um filme na cabeça, mesmo que não o transponha para o ecrã (dele, que no nosso lá está!).
De Sophia Loren a Nicole Kidman, as actrizes estão au point, e as excelentes música, danças e imagem complementam o argumento.
De Serge Reggiani (com letra de Jean-Loup Dabadie e música de Dominique Pankratoff ), uma das suas músicas de que mais gosto.
Cantor, poeta, pintor, actor, escritor... tanta coisa. Formidável em tudo. Desde esta (e outras músicas) ao seu desempenho em Casque d´Or (com Simone Signoret) ou no Gattopardo de Visconti, La Terrazza, de Ettore Scola, e tantos outros (80 filmes), e ao magnífico livro "Le dernier courier avant la nuit", traduzido em português - um Homem completo.
Vale a pena explorar a sua obra, ele, que nunca fez estudos mas que acabou por ser um Mestre e um Professor.
Actor Escritor
Pintor Cantor
Serge Reggiani morreu em 2004, aos 82 anos, de ataque cardíaco.
Não é uma obra-prima em termos de argumento - uma mescla de Guerra das Estrelas, Exterminador, Lawrence da Arábia e outros parecidos. No entanto, enquanto homenagem ao cinema e demonstração do que a 7ª Arte pode fazer (impossível de imitar em livro ou televisão) é excepcional.
Muito bonito, do ponto de vista estético - e também ético, aliás -, com o pormenor da 3D, Avatar permite 3 horas bem passadas, em que torcemos pelos "bons", desejando a punição dos "maus", e que no fim, o príncipe encantado case com a princesa dos olhos azuis (aqui, da pele azul)...
Boa música, excelentes cenários, exemplar fusão entre o humano e as imagens criadas em computador.
No sangue vermelho aspergido Das galinhas degoladas Há crianças esfaceladas Por entre os Tontom Macoute Talvez um Deus que desfrute De um cenário desvalido Varrido um país inteiro Resta um esgar amargo e triste Do céu que caiu em cacos
E dizem que Deus existe E que protege os mais fracos…
Dedicado à Kat. Este impressionante dueto, que nunca existiu (é fruto de montagem) reune duas das maiores vozes femininas da recente actualidade, em língua anglossaxónicas: uma deles vem da Georgia, mas não da Georgia americana: é Ketevan Melua, nascida em 1984, emigrante no Reino Unido, e mais conhecida pela americanização do nome: Katie. A outra, Eva Marie Cassidy, nasceu em 1963 em Washington e morreu com um melanoma em 1996, tendo cantado esta música no final do último recital que deu, já muito doente. What a wonderful world. What wonderful voices. What a misterious and sometimes unfair world.
Este Improviso, de Schubert, é o meu preferido. E encontrei-o nas mãos de um dos pianistas que mais aprecio. Espero que tenham o mesmo deleite do que eu, ao ouvirem-no, enquanto eventualmente lêem as linhas abaixo.
Alfred Brendel. Sublime. Deixou o ano passado de dar concertos em público, para se dedicar à escrita.
Austríaco, nascido na actual República Checa, não tinha músicos na família... mas tinha a música dentro dele. Passou aprte da infância na Croácia e, apanhado pela Guerra, teve de ir cavar trincheiras para a então Jugoslávia. Ainda não sabia tocar piano.
Terminada a Guerra, começou a compôr músicas e a interessar-se pela aprendizagem de piano, mas num registo de autodidacta. Também se dedicou à pintura. Só em adulto começou a estudar de uma forma estruturada, com o fabuloso Edwin Fischer (vantagens de residir num país onde o acesso aos gurus estava facilitado).
Mal começou, logo arrecadou - começou a ganhar prémios e mudou-se para Viena. Aos 21 anos gravou o primeiro disco. Depois... bom, depois foi sempre em frente, como é conhecido, já em Londres onde passou a viver.
A artrite, de que sofre, fez com que algumas peças se tornassem inacessíveis, mas resolveu dedicar-se então à poesia e a literatura em geral, tendo publicado alguns livros. Gravou também com Adrian Brendel, violoncelista e seu filho.
No dia 30 de Novembro de 2008 veio a Lisboa despedir-se dos portugueses, num memorável concerto na Gulbenkian.
Vale a pena ouvir, vezes sem conta, a sua versão da Tempestade, de Beethoven, designadamente o 3º andamento - estrepitoso, incansável, robusto, com staccatos que criam um inevitável suspense, mas ao mesmo tempo poético e sensível. Como Beethoven, provavelmente, gostaria de o ouvir. Quando encontrar esse trecho, colocá-lo-ei no Blogue.
Conheci-o na Corunha, ou em A Coruña como gosta de dizer, em casa de um grande amigo comum. Homem fascinante, poeta, ensaísta, romancista, escritor com muitos livros publicados e colunista no El Pais, é um grande defensor dos direitos humanos e dos direitos do povo galego. Foi fundador do Greenpeace e líder do movimento Nunca Máis, quando da tragédia do petroleiro Prestige; Manuel (Manolo) Rivas nasceu a 26 de Outubro de 1957, e aos 15 anos já era jornalista, sendo considerado actualmente, no domínio da Cultura, o galego com maior projecção internacional. Alguns dos seus romances, como O lápis do carpinteiro e A língua das borboletas já foram adaptadas ao cinema.
Manolo Rivas é um humanista, simples, interventivo e afirmativo. Assina os livros de uma maneira muito peculiar, com caneta de aparo, com a qual faz desenhos relacionados com o tema do livro. Mantemos correspondência regular e tenho todos os seus livros, com os quais me deleito, a maioria em galego, dado que os escreve na sua língua natal, traduzindo-os depois, ele próprio, para castelhano. Pena é que seja tão ignorado em Portugal.
Aqui fica um dos seus poemas, sobre a Memória
Somos o que sonhamos ser E esse sonho não é tanto uma meta, é mais uma energia.
Cada dia é uma crisálida, cada dia traz uma metamorfose. Caímos, levantamo-nos, em cada dia a vida recomeça.
A vida é um acto de resistência e de re-existência. Vivemos, revivemos tudo gera memórias; por isso somos o que recordamos e a memória o nosso lugar nómada.
Como as plantas ou as aves migratórias, as lembranças têm a estratégia da luz: caminham para a frente tal como um remador que rema de costas para ver melhor.
Há uma dor parecida com a dor de dentes, com a perda física, que é perder a lembrança do que amamos essa fotografia imprescindível do álbum da vida.
Por isso, há um tipo de melancolia que não coarta mas que nutre a liberdade. E é nessa melancolia, como na espuma das ondas, que se realizam os sonhos.
Espantoso, este dueto de Rossini. Um autêntico duelo, mais do que dueto, entre duas sopranos. Uma brincadeira fantástica que vale a pena ouvir, de fio a pavio (menos de 5 minutos), aqui por Pauline Tinsley e Elizabeth Vaughan, pelos cambiantes, ataques e defesas, avanços e recuos das duas vozes.
Quem disse que a chamada música "erudita" não pode ser divertida? Veja-se o ar das duas, no final!
O contraluz é um dos efeitos que mais gosto. Permite realçar algumas coisas, esbatendo as outras, ou reduzindo-as a um quase-esboço, mas com uma presença mantida, forte, sem a qual tudo o resto não teria sentido.
A primeira fotografia que tirei, aos 9 anos, foi um contraluz, na Ria de Alvor - uma rapariga a apanhar conquilhas, ao fim da tarde. Foi com um pequeno "caixote" que apenas nos pedia para carregar no obturador. Não tinha mais qualquer outra função ajustável...
Desses tempos, a fotografia que considerei sempre como "a melhor", foi também um contraluz, no Hostal de les Reyes Catolicos, em Santiago de Compostela. A máquina, claro está, foi prenda de passagem da 4ª classe, dada pelo meu Pai.
Estas foram tiradas no primeiro dia de 2010 - longe vai aquele tempo, mas continuo a ter um especial carinho por este tipo de fotografia.
De Tartini, o Trilo do Diabo, que faz parte da Sonata em Sol Menor, aqui na execução de Itzhak Perlman.
Vale a pena também ouvir a versão de Anne-Sophie Mutter.
Esta fotografia foi tirada no Museu da Electricidade, em Lisboa. Agradaram-me os tons e o contraste entre o preto e branco da estrutura, e a luz que nos ilumina e orienta, doce e quente.
A própria estrutura é singela e leve, apesar da sua complexidade - assim deveria ser a Vida.
Fotografia: MC (Museu da Electricidade-Lisboa. Junho de 2009)
Pergunta ao luar, do mar à canção Qual o mistério que há na dor de uma paixão. (Catulo da Paixão Cearense Brasil 1863-1946)
Raios de Lua
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Neste Blogue partilhar-se-ão poemas, fotografias e pensamentos, especialmente relacionados com a música.
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Vinícius de Moraes escreveu que "a Vida é feita de Música, Luar e Sofrimento". Acho que o último epíteto, apesar de poder ser verdadeiro, não o é tanto como a Poesia. Daí o nome deste Blogue, aproveitando a frase do Poeta, onde se pretende partilhar arte, emoções e sentimentos.