quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pausa

E, aproveitando o Outono, este Blogue vai iniciar uma pausa. Voltará com o Inverno? Ou com a Primavera? Talvez lá para o Natal. Algumas dos temas mais conotados com este Blogue serão publicados no "Espaço Azul". O regresso ao trabalho mais intenso do Outono e a gestão de outros blogues - da Escola EB1 São João de Deus e do ESCA - obrigam-me a fazer opções, porque o tempo não chega para tudo. Encontramo-nos, se quiserem e enquanto quiserem, onde sabem que me encontro.
E obrigado pelas visitas e comentários. Até breve!

Poema de Outono

Pintura: Autumn Light - Jorge Silva

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da Primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Aleluia!


Hoje faz anos o Messias, o de Handel, terminado em 1748. Fica dele esta magnífica peça, o Aleluia. Emocionante, arrebatador, convida a cantar - pois façam o favor!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

la fin de l´été - mais

Também a cantar o fim do Verão, a incontornável BB, quando ainda não andava na defesa das focas-bebés (e ainda não se encharcava de álcool, "alegadamente").


terça-feira, 7 de setembro de 2010

la fin de l´été


Talvez os de mais de 50 anos se lembrem: os Chats Sauvages a cantar "Quand vient la fin de l´été - derniers baisers", numa gravação de 1962. Romântico a roçar o piroso, mas cheio de simbolismo. O fim do Verão e dos amores de Verão. Pirosos ou não, românticos ou não, acontecem, vivem-se, ensinam, deixam nostalgia... e às vezes até continuam hors saison...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tardes de Verão - 4


Jan Blencowe - Summer Landscape

Tarde de Verão - MC

 
O sol aquece a terra
A leve brisa morna
Afaga a seara
E os insectos
Esvoaçam
E zumbem
À volta dos frutos

Tarde de Verão

Qualquer som
Distante
Nos embala.
Uma criança que ri
Um cão que ladra
Um ribeiro que corre.
E a aragem
Terna e doce
Teima
Em beijar-nos
Ao de leve

Tarde de Verão

O corpo espreguiça-se
E repousa.
Os sentidos descansam
Na paisagem.
O Bem e o Mal
Fizeram tréguas

A vida corre lenta
Leve e longa.
Mais lenta do que os anos
Que passam
Sem se verem.
Mais leve do que o peso
Do desígnio
Que nos esgota.
Mais longa afinal
Do que a duração
De uma simples
terna e calma
Tarde de Verão.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Tardes de Verão - 3


Summer - Natascha Westcoat

Tarde de Verão
Renato Baptista

E eu, nessa tarde fria de verão
Sentindo o calor da saudade
Imaginando o teu céu, meu véu
Teu amor que me escapa e vai
Com o vento que te leva
Pelos caminhos da vida
Mas o destino é um só
Ao meu lado por segundos
Como o beija-flor que bica
Alimenta-se e vive
E voa e se distancia
Fico com o sabor
Da sua boca que é linda
Com teu hálito macio
Com o carinho do teu abraço
Com a sensação da tua pele
Doce e querida
E tudo como se eu te tivesse
Aqui, agora
Acariciando o meu desejo
Minha fome de te amar

E eu, aqui vendo a noite chegar
Estrelas que se anunciam
Tempestade de amor
Que se pronuncia
Na imagem do teu cheiro
Do teu gosto que me tem
Como uma simples e comportada
Paixão...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 4

Mais um poema sobre o tema. Imortalizado por Elis Regina, com a melodia de Baden Powell (ver clip abaixo)

Quando eu morrer - Paulo César Pinheiro

Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Vai meu lamento vai contar
Toda tristeza de viver
Ai a verdade sempre trai
E às vezes traz um mal a mais
Ai só me fez dilacerar
Ver tanta gente se entregar
Mas não me conformei
Indo contra lei
Sei que não me arrependi
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha

Sai minha mágoa
Sai de mim
Há tanto coração ruim
Ai é tão desesperador
O amor perder do desamor
Ah tanto erro eu vi, lutei
E como perdedor gritei
Que eu sou um homem só
Sem saber mudar
Nunca mais vou lastimar
Tenho um pedido só
Último talvez, antes de partir
Quando eu morrer me enterre na Lapinha,
Quando eu morrer me enterre na Lapinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Calça, culote, palitó almofadinha
Adeus Bahia, zum-zum-zum
Cordão de ouro
Eu vou partir porque mataram meu besouro.


sábado, 28 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 3


Quando eu morrer, com minha guitarra enterrai-me, sob a areia
Quando eu morrer, enterrai-me num cata-vento.
Quando eu morrer!

Frederico Garcia Lorca - Lamentação da Morte, 1921

Fuzilado pelas tropas franquistas em 1936, numa série de acções denominadas "¡Muera la inteligencia! ¡Viva la muerte!", de que foi também vítima Miguel de Unamuno, Garcia-Llorca foi enterrado pelos assassinos algures, ao pé de Granada, desconhecendo-se o local exacto.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 2


Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado a andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá-Carneiro

Fotografia de José Maria Formosinho Sanches

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quando eu morrer... - 1

Ao visitar o Oceanário, deparei-me, à entrada, com este belíssimo verso de Sophia. Não resisto a (re)pô-lo aqui, e a dar início a uma sequência de poemas subordinados ao tema: "Quando eu morrer". A morte é um dos lugares encantados dos poetas, glosado com frequência. Mais do que o nascimento, diga-se (quando elaborei a Antologia "A Poesia do Nascimento" tive sérias dificuldades em encontrar material, tal a paucidade de poemas sobre o assunto. Seguir-se-á uma recolha sobre o Mar.

Se tiverem alguns poemas, enviem.


Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar

Sophia de Mello Breyner Andersen

 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

morreu George David Weiss

Morreu o autor de algumas das canções mais emblemáticas do século XX, designadamente a inesquecível "What a wonderful world", de que deixo o clip abaixo, imortalizada por Louis Armstrong (tentem concentrar-se na melodia e na orquestração). O compositor também escreveu muitas músicas para Elvis Presley e Frank Sinatra.


O Olho de Londres, ("Merlin Entertainments London Eye", de seu verdadeiro nome, ou "Millenium Wheel") deixa-me alguma ambivalência. Gosto do design, embora pareça uma roda gigante gigantesca, passe o pleonasmo, mas é mais do que isso, e uma ousada obra de arquitectura. No local onde está não incomoda nenhum edifício em particular e, dizem, a vista lá de cima é soberba.

O Olho mede 135 metros e é uma das rodas mais altas do Mundo, sendo actualmente a atracção turística mais rentável do Reino Unido, com cerca de 3,5 milhões de visitantes anuais. Fica na margem sul do Tamisa, perto da Westminster Bridge, nos Jubilee Gardens.

Inaugurado no último dia de 1999, veio para ficar, mesmo que não tenha sido inicialmente essa a ideia, e apesar de alguns problemas financeiros há cerca de 5 anos.

Tal como deve ter acontecido à Torre Eifel há cem anos, as pessoas vão-se habituando à presença da ilustre Roda, e já sabem que "The Big Eye of London is watching you". 

Depois de escrever este texto, rever as fotografias que tirei e reflectir, a minha ambivalência acabou...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

tardes de Verão - 2

Manet - Dejeuner sur l´herbe


Cesário Verde

Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Les Misérables


De volta. E com uma música (e um musical) que fazem as minhas delícias, tal como o romance de Victor Hugo que lhes deu origem: Les Misérables.

O musical está em cena em diversos países (há 25 anos em Londres), e nunca me esquecerei de como este romance me marcou - foi essencial para o meu "puzzle" de formação da "consciência social" e determinante na decisão de tentar, toda a minha vida, lutar contra as injustiças, mesmo aquelas legalizadas pela pena cínica e amoral de juristas, advogados e juízes, ou pelos poderes corporativos de médicos, professores ou outros profissionais. Ou simplesmente negar o direito de alguém fazer sofrer outrém, por mero prazer, negligência ou ignorância.

Li (e reli) o romance com cerca de 15 anos. Já vi o filme, realizado em 1998, com excelentes interpretações de Liam Neeson e Uma Thurman, e por duas vezes o musical. E, tendo dado agora pela lacuna nas minhas prateleiras, encomendei o livro para reler.

Há "miseráveis" em todo o lado - convém estar atento, além do mais...

sábado, 7 de agosto de 2010

tardes de Verão - 1

Alberto Caeiro - No Entardecer dos Dias de Verão
in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...





sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ciclos

Quem passa poderá nem notar, já que tem a cabeça ocupada com o trabalho, férias ou com os problemas do dia-a-dia.

Mas a terra nunca pára, mesmo quando parece estar em pousio. Semear para crescer, crescer para colher, colher para armazenar, armazenar para ter... até poder semear de novo. São ciclos que se repetem desde o neolítico. Com a calma da Mãe-Natureza.

E com tudo isto ficamos um ano mais velhos... inexoravelmente mais velhos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

as amoras de Verão


Nada como andar pelas veredas e colher amoras, algumas ainda ácidas, outras a desfazerem-se, escuras e gostosas, misturando o sabor agridoce do fruto com o timbre do pó, enquanto os insectos zumbem e as silvas picam em cada amora que se colhe.

Ficam agarradas aos dentes? Talvez. Tingem a roupa? Claro que sim. Mas deixam a boca de quem as come sensual e apetecível... como as amoras de Verão.

Fica um poema de Sophia sobre este fruto estival.

As amoras - Eugénio de Andrade


O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

um soneto de Verão

de William Shakespeare

Se te comparo a um dia de Verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do Verão é bem pequeno.


Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.


Mas em ti o Verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

amores de Verão, em tom francês (e algo lamechas)


E, para os mais nostálgicos, aqui fica o Johnnie Halliday, cantando os amores de Verão.

tous les garçons et les filles...


Era uma música tipicamente de Verão. Muito a ouvi, "herdada" dos meus irmãos mais velhos. Aqui fica, relembrando tempos. Nem melhores, nem piores. Apenas tempos... e Verões...
Françoise Hardy, Johnnie Halliday e Silvie Vartan

Crédito imagem: fr.com

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

para o Mário Bettencourt Resendes

Crédito imagem:i.olhares.com

Quem se lembrou de ti,
No esforço que equivale
Ao fazer e rasgar

Continentes e mares,
Montanhas e vales
Rios e colinas?

Quem se lembrou de ti
E te pintou com as cores
Mais finas,
Azuis e verdes
Caldeiras e flores?

Quem se lembrou de ti
E de te fazer,
Com o imenso saber
Do toque da neblina?
Quem se lembrou
De te levantar
Do mar
Ao som das ocarinas?

Quem se lembrou de ti
E da tua gente,
Tua mais-valia,
E das entranhas quentes
Que são tua oficina?
E de te dar,
De Santa Maria
Às Flores,
Os risos e as dores
De quem é Açores?

Quem foi afinal o inventor
Da tua sina?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Local hero

A propósito de Mark Knopfler, fica aqui o tema principal do filme Local Hero, que valerá a pena rever (deve existir em videoclubes) - a Escócia no seu melhor, numa história antiga mas muito actual. E as músicas de Knopfler como pano de fundo.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

antropólogo, arqueólogo, remador, actor, romancista e músico!


James Hugh Calum Laurie nasceu em Oxford, em 1959. Mais conhecido pelo papel de Gregory House, o médico cínico e sarcástico mas infalível, amargo mas com razões para estar de mal com a vida, é filho de um médico, estudou nas mais prestigiadas universidades britânicas (Eton e Cambridge) e fez parte da selecção inglesa de remo.


Esteve ligado a Emma Thompson, desde os tempos de Cambridge, alargando a parceria depois a Stephen Fry. Casou em 1989 e tem três filhos, de 22, 20 e 18 anos.

Além de ser actor, escreveu um livro: "The Gun Seller" - li e gostei.

Tem licenciaturas em Antropologia e Arqueologia, e toca muito bem piano e guitarra.

Pois o Doctor House, aliás Hugh Laurie, anunciou ir lançar um disco mo Outono.

Goste-se ou não da série, é sempre bom ver pessoas multifacetadas.

Fica aqui uma música composta pelo actor (músico), dedicado a Cuddy, cujo traseiro é constantemente gabado pelo famoso médico.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Vincent Van Gogh

Há 120 anos, Vincent Van Gogh disparou contra si próprio, vindo a morrer dois dias depois.
Fica aqui um poema que fiz em 1975, depois de visitar o Museu Van Gogh em Amsterdam.

MUSEU VAN GOGH


Aqui neste negro cemitério
rodeado de bruma e de mistério
jaz Vincent Van Gogh
que, num acto de loucura
disparou um tiro à queima roupa
trocando uma vida que julgava pouca
por uma estreita e escura
sepultura.

Neste jazigo de betão
dois metros abaixo do chão
jaz Vincent Van Gogh.
Já não tem tinta nem cor
não tem ódio nem amor,
é apenas o que resta
de uma aposta perdida
com a vida.

Neste covil pardacento
forrado de madeira e de cimento
jaz Vincent Van Gogh
Das mãos com que desenhava os esboços
restam ossos.
Pobre Vincent.
Roído pelos vermes, pelos ratos
ja não pintas mais autoretratos.

Fechado para sempre numa cela chã
longe de Théo, de Gauguin,
das tintas, dos pincéis,
do cavalete,
já só tens como amigos fiéis
a chuva e o vento
enquanto nós, compramos um bilhete
e num museu com ar condicionado
admiramos sabiamente os teus quadros
ignorando o teu sofrimento.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

férias - blogue a meio-gás


crédito imagem: www.hanselmannphotography.com

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.

Fernando Pessoa
 
 
Vou de férias. O Blogue irá tendo entradas conforme a inspiração mas, sobretudo, o ter ou não rede.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

em homenagem ao Paul


Arroz de Polvo
Mosteiros, São Miguel

Quando te vejo a descer
A caminho dos Mosteiros
Sabes-me a vinho de cheiro
E a pão de trigo a cozer
Moves-te como uma fada
Está o polvo no fumeiro
Quando desces o carreiro
Vejo-te ao longe na estrada


Quem me dera ser o banqueiro
Que guardasse esse teu oiro
Oxalá fosse o bombeiro
Que apagasse esse teu fogo
Labareda em labareda
Do teu lume, tua lava
Jogo as cartas do teu jogo
Dorme o polvo já na brasa

O tinteiro onde mergulhas
A caneta com que escreves
O trigo que tu debulhas
E que torna o pão mais leve
Quem me dera ser o herdeiro
Das vistas do teu olhar
O polvo está no fogueiro
E o arroz quase a estalar

Mas o céu está de aguaceiros
E tiveste de voltar
Não foi hoje que me viste
Terei mais é que esperar
Sabes a vinho de cheiro
Como é belo o teu andar
Quando vens pelo carreiro
A caminho de Mosteiros.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

LX Factory

Crédito imagem: http://guiadanoite.net

As cidades têm um dinamismo muito próprio e, por vezes, quando estamos distraídos com outras coisas ou demasiado ocupados em ver os aspectos negativos, esquecemo-nos de observar o que de bom se vai fazendo.

Os edifícios do antigo complexo industrial de Alcântara estavam ao abandono quando o projecto Lx Factory decidiu instalar-se ali, a cargo de criativos nas áreas da moda, publicidade, design e artes plásticas, bem como a Livraria Ler Devagar ou o Restaurante Cantina LX.

Com um projecto cultural vasto, desde música a festas,  inaugurações e lançamentos, e com um horário alargado até às 24h (ou mesmo 2h da madrugada), o espaço está a crescer, em todos os sentidos.

Foi aproveitado o mobiliário que restou da antiga Gráfica Mirandela, o que permitiu um ambiente que une o passado ao presente. Digamos que tem o charme do Musée d´Orsay como se fosse em plena baixa de Amsterdam. Mas é em Lisboa!

Visitem. Recomendo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Poema de Julho - Jaime Rocha

Crédito imagem: fr.academic.ru/pictures


Poema de Julho na Morte de Sophia


A sua voz irrompe das palavras
como uma cortina branca.


Uma voz que se prolonga nos riscos da areia
e mostra a boca oculta da água,
a mesma água que corre sobre as mãos
contra o rochedo da morte.
O sol de Julho bate na superfície do mar
como uma dança. Uma estátua renasce
num jardim de relva ao cimo dos ciprestes.


Como se estivesse num altar, na Castália,
nas montanhas douradas onde os poetas
param para beber nos pequenos sulcos.
A poesia espalha-se pelos cantos do deserto
como um pássaro de fogo fugindo das cidades.
A sua voz solta-se dos degraus como num teatro
construído para um deus.
Tapada pelas ervas, na sombra das árvores
queimadas, sob o templo de Delfos, as palavras
cobrem o brilho da luz, vestem a paisagem
com os lábios, choram, caminham para o mar.
Ítaca, o instante de um barco, o silêncio
e a cor do vinho.


Tudo se passa no olhar incendiado
da Grécia. A morte do seu corpo,
a claridade.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

nascer do Sol na praia


Fotografia: Sofia Knapic

É um espectáculo raramente visto, a não ser pelos que se têm que levantar muito cedo, para ir trabalhar à cidade, deixando a família ainda a dormir, ou pelos que, noite fora, vão deixando correr o tempo até serem seus senhores, e poderem presenciar este espectáculo magnífico.

Nasce o Sol e a areia fica tinta de ouro. O dia amanhece, e com ele todas as esperanças.

Vale a pena (uma vez por outra) acordar mais cedo, assistir ao nascer do dia na praia, ir comprar pão ainda morno e saboreá-lo, com uma chávena de café com leite bem quente. As gaivotas brincam na areia e os minutos parecem não ter pressa.

Nasce o Sol na praia. A própria natureza ainda goza o seu fruir mais tranquilo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

para fruir


Katie Melua, numa música que mostra bem as suas enormes capacidades líricas. Vale a pena ouvir com atenção este "When you taught me how to dance".

segunda-feira, 28 de junho de 2010

o bailado dos pirilampos

Crédito imagem: www.ebertfest.com

Aos fins de semana tenho tido a oportunidade de vivenciar o escuro da noite, coisa impossível em Lisboa. E tenho sido brindado com autênticos bailados de pirilampos, o que já não via desde a minha infância.

É um espectáculo único, e os meus filhos entusiasmam-se com estas coisas que a "civilização" impede de se concretizar no dia-a-dia. Ainda bem que existem locais onde a Natureza se consegue expressar desta maneira.

O nome pirilampo vem do grego: pyris =calor, lampis= luz. Ben hajam!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

21 de Junho


A beleza irrompe de um modo simples no meio da humildade de um campo, no primeiro dia de Verão. Quase como candelabros associando-se à efeméride.



quinta-feira, 17 de junho de 2010

a onda maior da Europa

Crédito imagem: I on-line

Buarcos, junto à Figueira da Foz, tem a que é considerada a maior onda da Europa, com cerca de 800 metros de comprimento.

As praias do Norte, Centro e Oeste são, na minha opinião, mais bonitas e "mais praias" do que as do Sul, sem prejuízo de tudo o que de bom o Algarve ou o Sudoeste Alentejano têm. Mas talvez por gostar de mar, mais do que de areia, e por gostar de fotografar, uma praia bem batida ímpõe mais respeito e é mais bonita...

terça-feira, 15 de junho de 2010

very hot, very chilli, wonderful pipers

Os Red Hot Chilli Peppers são bem conhecidos. A banda americana já esteve, aliás, no Rock in Rio. Mas mal adivinhava eu que iria dar de caras com os... Red Hot Chilli Pipers. A sério. Quase como os Rolling Stones e os Stone Roses. Uma letra faz toda a diferença. Aqui ficam eles, numa excelente interpretação de "Clocks".


sexta-feira, 11 de junho de 2010

carpe diem!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Em Dia de Camões, fica um soneto, dos mais bonitos ente os muitos admiráveis que o poeta escreveu.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.


Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.


O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


José Mário Branco aproveitou o mote e musicou:. Lembram-se?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

fim de tarde

Estas árvores, "apanhadas" ao fim da tarde (ou ao princípio da noite?) no Parque das Conchas, atrairam-me. Talvez pela tarde que ainda existe na primeira árvore e no céu, talvez pela noite que já se revela nas restantes árvores.

Sobressai a quietude, a melancolia, o momento...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Elton

Gostei de ver o concerto de Elton John no Rock in Rio (vi pela televisão, mas prefiro, porque pagar 57€ para estar a "3 km" do palco a ver uma figurinha que podia ser o Elton ou a tia dele não é para mim...

Esta é uma das minhas preferidas: Your song. Faz lembrar "velhos tempos", e é bom ver que Sir Elton "ainda mexe" e que a voz se mantém quase inalterada.

Esta é uma versão recente, de 2006, a dois, com Ronan Keating. Excepcional:


And you can tell everybody this is your song
It may be quite simple but now that it's done
I hope you don't mind
I hope you don't mind that I put down in words
How wonderful life is while you're in the world

segunda-feira, 7 de junho de 2010

o metro

Gosto de andar de metro, pela rapidez e pelo ambiente de algum mistério que ainda me provoca viajar "sete palmos abaixo do chão". Quando ando de metro procuro esquecer apertões e horas de ponta, maus cheiros ou confusão, mas apenas como é possível viajar barato e bem, rápida e eficazmente.

Ficam aqui alguns apontamentos tirados há dias:








sábado, 5 de junho de 2010

Dia Mundial do Ambiente

No Dia Mundial do Ambiente, aqui fica um sketch de Jim Carrey sobre o assunto. Desculpem não ter conseguido a tradução...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

a Fonte Monumental

Vejo-a diariamente, da janela do meu consultório. Infelizmente, são mais os dias em que não está a trabalhar do que aqueles em que a água jorra e transforma as estatuetas das virgens, cavalos, cavaleiros, donzelas, santas e guerreiros em obras de arte únicas, com os reflexos e a música da cascata.

Há quatro anos, a Fonte foi totalmente remodelada e até prometidos eventos nas salas que ficam por debaixo do mecanismo de relojoaria que coordena a saída das águas. Como sempre, ficou tudo em "águas de bacalhau", e o ambiente à volta da Fonte tem-se deteriorado muito.

Mesmo assim, ainda pude tirar estas fotografias, que aqui partilho convosco.



quinta-feira, 3 de junho de 2010

corpus christi

Em dia de Corpo de Deus, fica uma das árias mais bonitas do Requiem de Mozart: Lacrimosa, pela Orquestra Sinfónica e Coro da Eslováquia:

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dia Mundial da Criança

A infância vive a realidade da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia.

Agustina Bessa-Luís

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sinal fechado


Ainda de Chico Buarque, contracenando com Maria Bethânia, "Sinal Fechado", talvez a peça de teatro mais pequena alguma vez escrita. Pequena, simbólica, nostálgica. Triste.

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!





Bem querer


Depois da farsa do encontro entre Sócrates e Chico Buarque (a pedido do primeiro mas correndo a versão oficial que era o cantor a querer a reunião...), fica esta fantástica obra de arte: "Bem-querer", em dueto com Maria Bethânia. Esta música deu origem a uma peça musical com o mesmo nome, ácida, dura, desesperada, mas com a garra de Chico, para mim talvez o maior cantor/autor brasileiro. Tive a sorte de a ver, em Lisboa, no ano passado.

Fica aqui o poema, mas têm de se ouvir as vozes amargas e tristes de Chico e de Bethânia, para se sentir o calafrio.

Quando o meu bem querer me ver
Estou certa que há-de vir atrás
Há-de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais


E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há-de responder com juras
Juras, juras, juras imorais


E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há-de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais


E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais


E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há-de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais


E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás.

sábado, 29 de maio de 2010

um banho de lua...

crédito imagem: 1.bp.blogspot.com
Que fazer
com a réstia de luar
que se acolhe no mar
no regaço da noite?

Transportá-la
nas mãos em concha?
Conservá-la
numa redoma?

Ou deixá-la
simplesmente
a cintilar
com o desejo ardente
de ser eu
o mar?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

outra vez a Katie


Katie Melua acaba de lançar um novo disco. Muito bom, com sonoridades novas. Gosto especialmente do "A moment of madness", que consta deste clip. Às vezes apetecia, "um momento de loucura", em que levássemos a ousadia ao extremo... ou em que fossemos inimputáveis quando déssemos a sova devida a quem a merecia...

terça-feira, 25 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cores de Maio - 1

Miguel Esteves Cardoso, de quem leio assiduamente as crónicas no Público, até porque gosto muito da sua maneira de escrever e da atenção aos pormenores da vida, afirmava na sexta-feira algo como isto: "A Primavera estiola, as cores habituais desapareceram, os campos estão cinzentos e mortos".

Discordo. Totalmente. Ainda este fim-de-semana passiei pelos campos e raramente os tenho visto tão coloridos, das árvores às plantas mais rasteiras, das rosas aos cardos. E aqui ficam algumas fotografias das flores que irromperam no nosso jardim. São as cores de Maio, na sua força, recompensado-nos do esforço (agradável e saudável) para acarinhar o seu crescimento.


sábado, 22 de maio de 2010