sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

reis de Portugal

Já vamos em D. Maria II, mas tem sido um prazer, cada quinta-feira, aproveitar parte do serão para ler a história de dois reis de Portugal, não apenas a história pessoal mas também a da época, e as razões económicas, sociais, políticas, militares, eclesiásticas e outras, que condicionaram atitudes e comportamentos.

Excelente colecção, a um preço bom (6,90€ por "dois reis"...), elaborada por historiadores de renome, com a chancela da Academia Portuguesa de História.

Vale a pena, por um lado, para desfazer a imagem que temos da realeza; por outro, para ir um pouco mais além do que aprendemos na escola: reis com cognomes, castelhanos estúpidos e que levavam pancada, mouros infiéis, ignorantes e merecendo ser expulsos, descobrimentos porque havia um infante com fantasias e sonhos, etc, etc, etc!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cecilia, uma cantora desconhecida


Há cantores que desaparecem porventura cedo de mais. É o caso de Cecília, uma "protegida" de Julio Iglesias, ao que dizem, que morreu antes de completar 30 anos. Pouco se consegue saber sobre esta cantora espanhola, inclusivamente o seu apelido. Escreveu inúmeros poemas que musicou. Alguns cantores espanhóis (Julio Iglesias, Miguel Bosé, Ana Belén, Manolo Tena, Merche Coriscos) colaboraram num duplo-CD em sua homenagem, intitulado "Desde que tu te has ido", editado em 1996, que comprei em Valencia, por sugestão de um amigo espanhol. Não consegui saber mais da sua vida, designadamente porque morreu tão cedo. Mas tem músicas muito bonitas. Fica aqui a lembrança.

Era feliz en su matrimonio

Aunque su marido era el mismo demonio
Tenía el hombre un poco de mal genio
Y ella se quejaba de que nunca fue tierno
Desde hace ya más de tres años
Recibe cartas de un extraño
Cartas llenas de poesía
Que le han devuelto la alegría


Quien la escribía versos dime quien era
Quien la mandaba flores por primavera
Quien cada nueve de noviembre
Como siempre sin tarjeta
La mandaba un ramito de violetas


A veces sueña y se imagina
Cómo será aquel que tanto la estima
Sería un hombre más fiel de pelo cano
Sonrisa abierta y ternura en las manos
No sabe quien sufre en silencio
Quien puede ser su amor secreto
Y vive así de día en día
Con la ilusión de ser querida


(refrão)

 
Y cada tarde al volver su esposo
Cansado del trabajo la mira de reojo
No dice nada porque lo sabe todo
Sabe que es feliz, así de cualquier modo
Porque él es quién le escribe versos
Él, su amante, su amor secreto
Y ella que no sabe nada
Mira a su marido y luego calla

(refrão)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

em memória dos pescadores que já morreram este ano

Naufrágio - William Turner

Com fome e com sede
Saíram para o mar
Tentaram a sorte
Em busca de pão


Pediram ao mar
E o mar disse "não!"
Mas deu-lhes a morte
No fundo da rede.

MC

domingo, 21 de fevereiro de 2010

noches en los jardines de España

O Palácio de Aranjuez vale uma visita. Não pela beleza interior (não fez as minhas delícias), mas pelo edifício em si, pelo ambiente e, sobretudo, por fazer recordar a excelente música de Joaquin Rodrigo, autor do Concierto de Aranjuez, cujo Adagio podem ouvir abaixo, na guitarra única de Paco de Lucia. Os jardins estão votados quase ao abandono, o que é uma pena... mas a mística perdura.

Foto: MC

sábado, 20 de fevereiro de 2010

magret de pato - II

Reconheci-te, velho amigo
Numa brasserie em Paris
Por que te ris?
É verdade
Revi-te com saudade
Revi-te, magret de pato
Pato de Sintra
À minha mercê
Feito em magret
Perguntando com calma
Porquê.
Porquê sempre ele
Pato fiel
A dar o corpo e a pele
Para me salvar a alma


Respondo sorridente
Velho magret
Velho pato.
Os porquês
Dos desígnios da gente
Não passam pelo cliente
Nem pelo prato...


E enquanto te saboreio,
Numa brasserie de Paris
Penso nas framboesas
Da Sintra imperatriz


Pobre pato
Nobre pato,
Comido com anseio
Em suave recato
Como um galanteio
A uma bela princesa


Ou apenas uma ingénua subtileza
Elegância e leveza
De um conto feliz.

MC

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

magret de pato - I

Café-Paris


Um casal
Dois casais
Povoam as mesas
Cor-de-framboesa
Do Café Paris.


Sintra a meus pés


O Palácio ergue-se
Monumental
Na leveza
Da iluminação
Que discreta e acesa
Rompe a escuridão


A minha boca
Aceita uma garfada
De magret de pato
Que o meu cérebro
Escolheu, com justeza,
Enquanto a minha mão
Faz juz à empresa.


Pobre pato!
Sacrificado na mesa
Ou no altar
Em prol da subtileza
Do meu paladar.
Sabor requintado de fineza
Mas adoçado com o aroma
Da tristeza


Um casal
Dois casais
Mais uns quantos
Povoam
As mesas floridas
Do Café Paris


Onde estás?
Para quem te ris?
Quem tem o privilégio
De ouvir a tua voz?
O amor é um sentimento
Régio
Com momentos
De indigência atroz.
Rico no meu fato
Mas no coração pelintra
Protejo-me atrás do magret de pato
Como se fosse o castelo de Sintra.




Um casal
Dois casais
Outros tantos
Apreciam a singeleza
De um fim de tarde no Café Paris
Parecem reflectir a surpresa
De um encontro inesperado
Talvez uma princesa
Com o seu príncipe encantado
Ou apenas a afoiteza
Dos olhares pueris
E com gentileza
O empregado
Engravatado
Sorri


E pergunta se desejo sobremesa.

MC

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

a verdade existe?...

...e se sim, quais os seus limites, as suas leituras e o que se esconde atrás dela? Novas verdades ou um conjunto de mentiras?

Se se começa uma sequência, pode ter-se mão nela? Ou os novos algarismos surgirão, inexoravelmente, fora do nosso controlo? Será o medo de não controlar tudo que nos faz inventar deuses?

Este filme, passado em Oxford, tendo como principais personagens um professor de Matemática, que vai beber a sua filosofia ao Tractatus Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein, com uma visão algo cínica da vida, e um estudante obcecado pelo mestre e desejoso que este o acolha como pupilo. Pelo meio, alguns misteriosos assassinatos (ou não?), e uma corrente de eventos que só a matemática e a lógica poderão inverter... ou não, pois porventura eles são determinados por elas.

Belo filme, denso, estimulante, com os colégios, as ruas e as paisagens de Oxford como pano de fundo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta-feira de Cinzas


Fica a Marcha da Quarta-FEira de Cinzas, de Vinícuis de Moraes, e um poema meu sobre o assunto:

Para aqueles que vêem no Carnaval a única libertação possível

Já chegou a Quarta-feira
entrega a máscara-magia
enterra também a fantasia
e a poesia.
Acabou-se a brincadeira.


Esgotou-se depressa a liberdade
e chegou a ocasião
de voltares para a prisão
da monotonia
(pois em ti a fatalidade
sempre vence).


Despede-te do Deus-Carnaval
que não passa afinal
de um charlatão


E regressa então
(é a única opção)
à melancolia
do dia-a-dia
a que pertences.



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

manhã de Carnaval


A canção mais popular de Luiz Bonfá e Antonio Maria, que faz parte da banda sonora do filme Orfeu Negro, realizado em 1959. Foi uma das grandes percursoras do Jazz brasileiro, e já teve interpretações de Chet Atkins, John McLaughlin, George Benson, Placido Domingo, Stan Getz, Cher, entre outros. Aqui a interpretação de Nara Leão.

Sublime!
Fica aqui também um clip do filme:

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

outros carnavais


Munch - A criança doente

Na cama de um hospital

Na cama do hospital
Uma criança geme
Entre as grades malditas
Da sorte
Entre as garras e a desdita
Da morte
Uma criança geme
E chora

E um pai teme
E implora
A Deus
Que não o leve

Porque é pequeno
Porque é ladino
Porque, e apenas, porque
É o seu menino

A vida tem por vezes um leme
Que se compreende mal
Como quando uma criança chora e geme
Na cama de um hospital.

MC

sábado, 13 de fevereiro de 2010

um raio de luz sobre as Berlengas

As Berlengas, vistas do Baleal, oferecem sempre imagens diferentes. Cada pôr-do-sol, por exemplo, tem uma característica que leva a presenciá-lo e contemplá-lo como se fosse a primeira vez, mesmo que se repitam 365 vezes no ano.

Esta fotografia, ainda antes do poente, foi exactamente tirada da "Rua do Pôr-do-Sol", num dia tipicamente "balealesco": algumas nuvens, algum sol, mas sempre a mesma luz mística. Lá está, ao fundo, o "porta-aviões", ou "a baleia", ou "o navio"... ou a representante do único arquipélago, digno desse nome, do Continente português.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Lisboa que amanhece


Sérgio Godinho é uma pessoa muito interessante. Quando escrevo "pessoa" é porque não é apenas um cantor. É também um poeta, um diseur, um músico, e um homem que sabe abraçar causas e que sabido actualizar a sua mensagem e evoluído nos sons, experimentando novas variações , também, associando-se a novos músicos, promovendo-os.

Humilde e simpático em palco, Sérgio Godinho tem uma enorme discografia - pessoalmente, prefiro as suas músicas românticas, que são muitas, e nas quais o poeta disseca as peripécias, sucessos e tristezas do Amor. Este "Lisboa que amanhece", pelo ritmo do poema e pela letra e música, é um dos meus preferidos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

o amor, na espuma dos dias

Fotografia: MC

Je t´attends

(com um "salut" a Boris Vian)

Je t´attends, venir
mon amour
l´âme du plaisir
dans l´écume des jours


Comme une vague mourante
qui plaise
savante
et charmante
le sable velours


Je connais
mon amour
ta douceur
et la pesanteur
des vagues puissantes


Et j´essaie
ta saveur
naturelle
dans le sel
de la mer
qui me frappe le cœur


Je connais, mon amour
le goût d´un pleur
comme une fleur
de couleurs
à l´envers


Je te vois, mon amour
venir
comme un rusé chasseur
plein de fauves
amers


Je te pleure
et demeure
mes yeux
dans l´amante
charmante
du feu des retours


C´est pour ça, mon amour
que, toujours,
je t´attends
passionnément
dans l écume des jours.

MC

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

o melhor anti-depressivo


Para começar a semana, aqui fica o melhor anti-depressivo. Deitem fora os Xanax, Lorenim, Cipralex e até o chá de camomila! Esta música de Gloria Gaynor dá conta de quaisquer sentimentos menos positivos. "I will survive". We all will. And we deserve it!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

quando brilham as estrelas



O dia amanhece em Roma. Do terraço do Castelo de Sant'Angelo vislumbra-se à luz cinzenta e vermelho-escura da manhã o Vaticano e a Basílica de São Pedro. A hora da execução de Mario Cavaradossi, um revolucionário de esquerda está a chegar. Não quer um padre, mas sim deixar uma mensagem de amor para Tosca. E lucevan le stelle. Brilham as estrelas. A execução simulada por Tosca vai falhar, e Mario morre. Como é lindo, mio Mario. Mas Mario morreu. E Tosca salta também para a morte.

Mais uma história de amor interrompida pela morte, mas cantada e glorificada até ao fim.

Da Ópera Tosca, de Giacomo Puccini

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

dueto de amor


Mario del Monaco e Renata Tebaldi, nesta ária pungente de despedida da Vida, O Terra addio. Da Aida, de Giuseppe Verdi. Os amantes impossíveis, Radamés, o valente general egípcio, e Aida, a escrava etíope.

O amor vence, no final, mesmo que a morte os leve.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Utopia - (para a Virgínia)


Utopia
Não-lugar
Da sapiência,
Pilar
Da existência
Sem limites.
Utopia
Lugar
De ousados sonhos,
Lugar
Onde o medonho
É apetite.
Utopia
Lugar
Das harmonias
Onde até
Os deuses
Têm coração
Utopia
Lugar
Das fantasias
Onde a humana condição
Existe
Livre

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

grande Fantasma!


Há dias tive a oportunidade de rever o excelente "Fantasma da Ópera" de Joel Schumacher. Depois de ter lido o romance de Gaston Leroux, visto o musical em Londres e ouvido vezes sem conta o disco, é sempre uma emoção renovada rever esta magnífica história e ouvir a música encantadora de Andrew Lloyd Weber.

Gosto de histórias românticas, trágicas e líricas, sentimentais e em que o amor é o personagem central. O "Fantasma da Ópera"  é uma obra pungente mas com extraordinária força. Vale a pena ver este filme.

(no excerto que apresento acima, fica patente a sensualidade que percorre toda a música e o enredo).

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

o Luar na pluma de Alberto Caeiro


Ficam aqui dois poemas de Alberto Caeiro, de "O Guardador de Rebanhos", respectivamente os poemas XIX e XXXV.

O Luar quando bate na relva

O luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
Contando-me contos de fadas.
E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas
Socorrendo as crianças maltratadas ...
Se eu já não posso crer que isso é verdade,
Para que bate o luar na relva?




O Luar através dos altos ramos

O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.



anteontem foi Lua-Cheia, a 2ª de Janeiro (uma raridade)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

para uma Amiga, num momento difícil


Nenhum olhar

Nenhum olhar ultrapassa o horizonte
Nem a última estrela da última galáxia
Nenhum olhar vê o sofrimento alheio
Nem os fundos mais recônditos do mar
Nenhum olhar adivinha os teus segredos
Os teus medos, ou a química da alma
Nenhum olhar te poderá oferecer calma
A não ser o teu olhar a te olhar
Como nenhum olhar...

MC

imagem do fim de Janeiro


"Verdes são os campos, da cor do limão..."