sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

magret de pato - I

Café-Paris


Um casal
Dois casais
Povoam as mesas
Cor-de-framboesa
Do Café Paris.


Sintra a meus pés


O Palácio ergue-se
Monumental
Na leveza
Da iluminação
Que discreta e acesa
Rompe a escuridão


A minha boca
Aceita uma garfada
De magret de pato
Que o meu cérebro
Escolheu, com justeza,
Enquanto a minha mão
Faz juz à empresa.


Pobre pato!
Sacrificado na mesa
Ou no altar
Em prol da subtileza
Do meu paladar.
Sabor requintado de fineza
Mas adoçado com o aroma
Da tristeza


Um casal
Dois casais
Mais uns quantos
Povoam
As mesas floridas
Do Café Paris


Onde estás?
Para quem te ris?
Quem tem o privilégio
De ouvir a tua voz?
O amor é um sentimento
Régio
Com momentos
De indigência atroz.
Rico no meu fato
Mas no coração pelintra
Protejo-me atrás do magret de pato
Como se fosse o castelo de Sintra.




Um casal
Dois casais
Outros tantos
Apreciam a singeleza
De um fim de tarde no Café Paris
Parecem reflectir a surpresa
De um encontro inesperado
Talvez uma princesa
Com o seu príncipe encantado
Ou apenas a afoiteza
Dos olhares pueris
E com gentileza
O empregado
Engravatado
Sorri


E pergunta se desejo sobremesa.

MC

1 comentário:

Virginia disse...

Impressionante!

Quando fiz 25 anos de casada, fui a Sintra e fiquei a pernoitar aí pertinho numa casa antiga que estavam a restaurar - a que chamavam a Casa dos Cavalos - , donde se tinha uma vista fenomenal para a serra do lado detrás. A frente dava para o Palácio. Almoçámos no Café Paris, na varanda, mas já não me lembro do que comemos. Tenho fotos dessa ida em Novembro.
Revivi tudo ao ler este poema. Muito simples, tipo Jacques Prévert, que eu adoro.

Obrigada.