terça-feira, 27 de julho de 2010

Vincent Van Gogh

Há 120 anos, Vincent Van Gogh disparou contra si próprio, vindo a morrer dois dias depois.
Fica aqui um poema que fiz em 1975, depois de visitar o Museu Van Gogh em Amsterdam.

MUSEU VAN GOGH


Aqui neste negro cemitério
rodeado de bruma e de mistério
jaz Vincent Van Gogh
que, num acto de loucura
disparou um tiro à queima roupa
trocando uma vida que julgava pouca
por uma estreita e escura
sepultura.

Neste jazigo de betão
dois metros abaixo do chão
jaz Vincent Van Gogh.
Já não tem tinta nem cor
não tem ódio nem amor,
é apenas o que resta
de uma aposta perdida
com a vida.

Neste covil pardacento
forrado de madeira e de cimento
jaz Vincent Van Gogh
Das mãos com que desenhava os esboços
restam ossos.
Pobre Vincent.
Roído pelos vermes, pelos ratos
ja não pintas mais autoretratos.

Fechado para sempre numa cela chã
longe de Théo, de Gauguin,
das tintas, dos pincéis,
do cavalete,
já só tens como amigos fiéis
a chuva e o vento
enquanto nós, compramos um bilhete
e num museu com ar condicionado
admiramos sabiamente os teus quadros
ignorando o teu sofrimento.

3 comentários:

Virginia disse...

É um Pintor que me atrai como se houvesse magnetismo nas suas pinturas. Uma personaiidade única, duma sensibilidade e inteligência enormes, basta ler as suas cartas publicadas agora numa obra fantástica que cito no meu blogue.
Não o aprecio tanto como artista duma corrente- acho Monet o expoente máximo do impressionismo - mas adoro os seus quadros dum modo quase físico, atraem-me as cores, os riscos, os círculos, as curvas, o delírio...

Ainda bem que voltaste e com estes quadros magnificos...

Virginia disse...

Esqueci-me de acrescentar....com estes quadros magníficos e um poema a condizer, embora em tons térreos.

Dulce AC disse...

também eu sou absolutamente atraída pela pintura tão "viva" de Van Gogh
há como que uma magia de cores que se transformam em vida naqueles trabalhos tão maravilhosos (!)

"já só tens como amigos fiéis
a chuva e o vento"

e lembrei-me de uma poesia de que gosto muito

"Meto-me para Dentro

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme"

(Alberto Caeiro)

e num Olá Lhe desejo dr. Mário Cordeiro um bom dia..!

dulce e catarina