quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

um percurso de vida excepcional

Este Improviso, de Schubert, é o meu preferido. E encontrei-o nas mãos de um dos pianistas que mais aprecio. Espero que tenham o mesmo deleite do que eu, ao ouvirem-no, enquanto eventualmente lêem as linhas abaixo.



Alfred Brendel. Sublime. Deixou o ano passado de dar concertos em público, para se dedicar à escrita.
Austríaco, nascido na actual República Checa, não tinha músicos na família... mas tinha a música dentro dele. Passou aprte da infância na Croácia e, apanhado pela Guerra, teve de ir cavar trincheiras para a então Jugoslávia. Ainda não sabia tocar piano.


Terminada a Guerra, começou a compôr músicas e a interessar-se pela aprendizagem de piano, mas num registo de autodidacta. Também se dedicou à pintura. Só em adulto começou a estudar de uma forma estruturada, com o fabuloso Edwin Fischer (vantagens de residir num país onde o acesso aos gurus estava facilitado).

Mal começou, logo arrecadou - começou a ganhar prémios e mudou-se para Viena. Aos 21 anos gravou o primeiro disco. Depois... bom, depois foi sempre em frente, como é conhecido, já em Londres onde passou a viver.



A artrite, de que sofre, fez com que algumas peças se tornassem inacessíveis, mas resolveu dedicar-se então à poesia e a literatura em geral, tendo publicado alguns livros. Gravou também com Adrian Brendel, violoncelista e seu filho.

No dia 30 de Novembro de 2008 veio a Lisboa despedir-se dos portugueses, num memorável concerto na Gulbenkian.

Vale a pena ouvir, vezes sem conta, a sua versão da Tempestade, de Beethoven, designadamente o 3º andamento - estrepitoso, incansável, robusto, com staccatos que criam um inevitável suspense, mas ao mesmo tempo poético e sensível. Como Beethoven, provavelmente, gostaria de o ouvir. Quando encontrar esse trecho, colocá-lo-ei no Blogue.

1 comentário:

Virginia disse...

Ofereceram-me um disco vinil de Brendel quando eu tinha uns 20 anos. Era um dos concertos de Mozart e adorei.
Estou habituada a ouvir os improvisos tocados pela M. João e são mais impetuosos, mas este toca-me pela sonoridade dos seus arpejos e o sentimento expresso nas melodias. É lindo ouvi-lo às 3 da manhã, com a casa em silêncio, antes de ir sonhar com o Morfeu. Haverá algo mais sublime que a música assim tocada?