quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Manuel Rivas - um amigo galego

Conheci-o na Corunha, ou em A Coruña como gosta de dizer, em casa de um grande amigo comum. Homem fascinante, poeta, ensaísta, romancista, escritor com muitos livros publicados e colunista no El Pais, é um grande defensor dos direitos humanos e dos direitos do povo galego. Foi fundador do Greenpeace e líder do movimento Nunca Máis, quando da tragédia do petroleiro Prestige; Manuel (Manolo) Rivas nasceu a 26 de Outubro de 1957, e aos 15 anos já era jornalista, sendo considerado actualmente, no domínio da Cultura, o galego com maior projecção internacional. Alguns dos seus romances, como O lápis do carpinteiro e A língua das borboletas já foram adaptadas ao cinema.

Manolo Rivas é um humanista, simples, interventivo e afirmativo. Assina os livros de uma maneira muito peculiar, com caneta de aparo, com a qual faz desenhos relacionados com o tema do livro. Mantemos correspondência regular e tenho todos os seus livros, com os quais me deleito, a maioria em galego, dado que os escreve na sua língua natal, traduzindo-os depois, ele próprio, para castelhano. Pena é que seja tão ignorado em Portugal.

Aqui fica um dos seus poemas, sobre a Memória


Somos o que sonhamos ser

E esse sonho não é tanto uma meta,
é mais uma energia.


Cada dia é uma crisálida,
cada dia traz uma metamorfose.
Caímos, levantamo-nos,
em cada dia a vida recomeça.


A vida é um acto de resistência
e de re-existência.
Vivemos, revivemos
tudo gera memórias;
por isso somos o que recordamos
e a memória o nosso lugar nómada.


Como as plantas ou as aves migratórias,
as lembranças têm a estratégia da luz:
caminham para a frente
tal como um remador que rema de costas para ver melhor.


Há uma dor parecida com a dor de dentes, com a perda física,
que é perder a lembrança do que amamos
essa fotografia imprescindível do álbum da vida.


Por isso, há um tipo de melancolia que não coarta
mas que nutre a liberdade.
E é nessa melancolia,
como na espuma das ondas,
que se realizam os sonhos.

3 comentários:

joaopedrosantos disse...

É LINDO. De uma enorme simplicidade e beleza. E verdade.

Virginia disse...

Tão verdadeiro. Tudo o que belo é talvez melancólico...ou triste. Em tom menor.

Dulce AC disse...

olá dr. Mário Cordeiro

afinal não resisti e dei um pulinho ao "Música Luar e Poesia"
e comecei por aqui..e é belíssimo este poema

"Cada dia é uma crisálida,
cada dia traz uma metamorfose.
Caímos, levantamo-nos,
em cada dia a vida recomeça"

não sei bem se nesta cadência diária...
mas sim, sem dúvida, cada dia pode ser uma crisálida...

Muitos Parabéns ao criador da "Música, Luar e Poesia.."!

que seríamos nos nossos dias se não acalentassemos cá dentro a música e a poesia
e se não nos maravilhássemos ao contemplar o luar...

um abraço de muito gostar de por aqui passar
e de saber querer voltar

dulce (mãe da Catarina)