sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

uma ponte para algures...




As pontes têm sempre algo de misterioso, como a nossa consagrada Ponte 25 de Abril.

Uma ponte vai para onde a nossa fantasia desejar e, rodeada de nevoeiro, tão típico do Tejo, parece não ter fim.

"A ponte é uma passagem" - rezava a canção. É uma transição, uma mudança. Sempre algo que nos faz mudar de um local para o outro, de um karma para o outro, por sobre um espaço por onde não poderíamos nunca passar sozinhos.

Como um parto, e ela a mãe que nos faz nascer...

5 comentários:

Virginia disse...

É bem mais bonita a Outra Banda assim no meio do nevoeiro....:))

Anónimo disse...

Mal vi o post veio-me logo à lembrança Mário de Sá Carneiro:

Eu não sou eu nem sou outro
Sou qualquer coise de intermédio,
Pilar da ponte do tédio
Que vai de mim para o outro

E já que estou referindo Mário de Sá Carneiro, fica aqui um dos (para mim) melhores poemas dele:

Quase


Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido…

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim – quase a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo … e tudo errou…
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…

Momentos de alma que,desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…

Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Mário disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mário disse...

Aproveito para dizer (embora queira manter ideologias e política fora deste Blogue) que há um movimento de recolha de assinaturas para mudar o nome da Ponte 25 de Abril novamente para Ponte Salazar. Nem faço comentários... e se calhar a Outra Banda para Saraband...

Mário disse...

O "Quase" é dos poemas mais bonitos que conheço, e fica associado, para mim, ao romance de Hubert Reeves sobre a formação do Universo, que em português tem esse nome ("Um pouco mais de azul".