sábado, 23 de janeiro de 2010

meu Amor, na tua mão...



Divinal. O poema e a fadista.

De Alexandre O´Neill, cantado por Amália, com música de Alain Oulman, um fado de amor, pungente.

Se uma gaivota viesse

trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

(refrão)

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.


Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

(refrão)


Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

(refrão)

3 comentários:

Anónimo disse...

Um dos mais belos fados de Amália ccom poema de um extraordinário Homen que a morte levou cêdo demais. Tive a sorte de o conhecer pessoalmente e, logo desde a primeira vez que o encontrei, fiquei fascinado. Pena que a sua obra seja tão pouco conhecida.

Assim, atrevo-me a colocar aqui mais um poema dele:

O amor é o amor

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!

Anónimo disse...

Já agora queria apenas referir que este fado tem uma versão original e, na minha modesta opinião, bem conseguida, pelos 'The Gift'. Pena é que ao ter sido utilizado para música de tema da charopada telenovelesca da SIC 'Perfeito Coração' comece a ser massacrante e a perder o seu fascínio.

Mário disse...

Filipe - Alexandre O´Neill foi um homem fascinante, quer no que deixou escrito, quer no seu percurso de vida, irreverente, livre, convicto. A morte levou-o cedo, é verdade, como acontece com tantos que teriam, estou certo, muito mais a dizer e a expressar.
Este poema que você deixou é lindo.

Quanto às "corruptelas" das músicas e poemas, infelizmente não há maneira de as travar, e Vivaldi fica associado a bonbons ou Mozart a pensos higiénicos...

Quanto a poemas de gaivotas, é engraçado como eles ficam marcados pelo contexto e pela circunstância: o famigerado "Uma gaivota voava, voava" ficou conhecido pelo verso seguinte, não original: "f-d-p nunca mais se cansava", e pela colagem ao gonçalvismo mais puro e duro. Curiosamente, o poema verdadeiro não é mau, se retirada a conotação contextual. Pelo menos melhor do que o "she loves tou ye,ye,ye" que traduzido para português seria digno do caixote do lixo da História!