terça-feira, 24 de agosto de 2010

tardes de Verão - 2

Manet - Dejeuner sur l´herbe


Cesário Verde

Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

2 comentários:

Virginia disse...

Estudei este poema no liceu ou na faculdade, já não me lembro bem e fiquei tocada pelo erotismo das imagens, que tão bem se adequam a este quadro de Manet.
Não há duvidas de que simbolistas e impressionistas têm pontos em comum e tanto quadros como poemas, reflectem coisas palpáveis, neste caso os seios e as papoulas.

Adoro a musicalidade do poema.
Boa escolha!

Anónimo disse...

Eu também estudei este poema e lembro-me de me ter encantado com poesia de Cesário Verde, absolutamente fascinante, crua e surpreendentemente realista.

Tambem o considero uma muito boa escolha!