quinta-feira, 13 de maio de 2010

A vida e os bois...

O meu querido filho Eduardo disse um dia, na fase talvez mais complicada da sua existência, que "a Vida é mais difícil do que dar banho a um boi".

Passei a olhar os bois com outro respeito. Em que pensará este boi, fixado pela minha objectiva algures, entre Cáceres e Sevilha? Pensativo, resguardado pela sombra acolhedora de um anódino chaparro. Será que reflecte nas palavras do Eduardo? Será a sua vida mais difícil do que as suas próprias abluções?

5 comentários:

Virginia disse...

Pelo menos não olha para um palácio, contempla a erva verde e goza da sombrinha que lhe é oferecida de bandeja pelo amigo chaparro. Deve estar feliz no seu habitat natural e espero que não lhe enfiem barretes em touradas.

Hoje dei banho a dois dos meus netos e adorei. Não são bois, graças a Deus!!:))

Anónimo disse...

.
Embora correndo o risco de acharem que é demais, deixo aqui dois poemas:

'O boi no campo'
Carlos Drumond de Andrade
(1902-1967)

Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homen na rua!
Entre carros, trens, telefones,
Entre gritos, o ermo profundo.

Ó solidão do boi no campo,
Ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
A escuridão rompe com o dia.

Ó solidão do boi no campo,
Homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
E as casas não têm sentido algum.

Ó solidão do boi no campo!
O navio-fantasma passa
Em silêncio na rua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva...
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.

+++++

'Os bois'
Afonso Lopes Vieira
(1868-1946)

Os bois! Fortes e mansos, os boizinhos,
- leões com corações de passarinhos!

Os bois! Os grandes bois, esses gigantes,
tão amigos, tão úteis, tão possantes!

Vede os bois a puxar, pelas estradas,
aquelas pesadíssimas carradas.

O corpo deles, com o esforço, freme,
e o carro geme, longamente geme...

E à noite, pela estrada tão sòzinha,
o carro geme, geme, e lá caminha...

E parece, pela noite envolta em treva,
que é o carro a chorar por quem o leva.

Vede o boi a puxar à velha nora,
que parece também que chora, chora...

A nora chora, e o boi, cansadamente,
anda à roda, anda à roda, longamente...

E parece pela tarde erma que expira,
que é a água a chorar por quem a tira.

Mas vede os bois, também, nessa alegria
de trabalhar na terra à luz do dia!

Vede os bois a puxar ao arado, agora
que o lavrador conduz pelo campo fora!

Eis um canto de amor no ar se espalha:
- é a terra a cantar por quem trabalha!

O arado rasga a terra, e os bois, passando,
com os seus olhos a vão abençoando.
Sem as suas fadigas e canseiras,
não teriam florido as sementeiras!

Sem a sua força, sem a sua dor,
não estava rindo a terra toda em flor!...

E, por onde os bois lavraram,
as fontes frescas brotaram,
as árvores verdejaram,
os passarinhos cantaram,
as flores floriram,
os campos reverdeceram,
os pães cresceram
e os homens sorriram!...

Mário disse...

Poemas muito bonitos, Filipe.

E, como hoje diz o Expresso on-line, em título: "A função pública é uma vaca sagrada". Será por isso que o boi está tão recolhido?

Virginia disse...

É uma vaca sagrada, que carrega sempre com os pecados alheios. Mesmo que os tenha e grandes, não é justo que sejam sempre os mesmos a arcar com as responsabilidades do defice. Já era altura de fazer todos pagar as tonterias do Sócrates e graças a Deus a UE obrigou-nos a isso.
Oxalá eu possa continuar a trabalhar para o privado, apesar de tudo compensa mais...sempre compensou.:))

PS Não gosto nada deste sistema de moderação, é chato como o anónimo ( será que ele volta???)

Anónimo disse...

.
Bem, uma vez que se fala de vacas sagradas, aqui vai um poema:

'VACA SAGRADA'
©VICTORIA LUCIA ARISTIZABAL©

Quién pudiera ser vaca sagrada
paciendo en un solar enamorada
quién pudiera tocarme con cariño
que no hay comida para tanto aliño

Sentir un par de manos delicadas
acariciando mis ubres de mañana
y ser con frecuencia inseminada
por un toro de estampa bien galana

Mover mi cola coqueta con el rabo
mientras le pico arrastre al toro bravo
para que no me diga que es un impotente

Que seamos de una vez esas valientes
que asustan con el virus de las vacas locas
o con las tetas repletas de aguardiente

Para quem quiser ler vários poemas sobre vacas, vá a 'cirandadeletras.cantodapoesia.net/a_vaquinha.htm'